O Caminho dos monges
- Ana Rita Sousa

- 2 de ago. de 2024
- 3 min de leitura
Atualizado: 10 de out. de 2024
Tarouca, Lamego, Douro - Maio/Junho 2024
Esta magnífica viagem pela História percorre dois concelhos – Tarouca e Lamego – com uma extensão total de 42 quilómetros, levando-nos a conhecer uma zona de paisagens encantadoras e de alto valor histórico, geológico e cultural.
Seguimos em permanência pelo vale do rio Varosa – o “Vale encantado” (nome dado pelos locais) – até chegarmos à sua foz.
Um rio gentil e generoso que, no final deste percurso, oferece as suas águas cristalinas ao grande Douro.
Fazendo o caminho, podemos imaginar a vida, o trabalho, a dedicação de muitas centenas de monges cistercienses que aqui viveram ao longo dos séculos.
Esta herança é ainda palpável em muitas tradições, de modo especial na cultura do vinho - ou não precisassem os monges de celebrar missa diariamente, o que implicava ter sempre vinho à disposição.
É difícil medir o legado deixado por estas comunidades religiosas. Os mosteiros e abadias estão na base da nossa cultura Europeia e na fundação de muitas cidades por todo o território europeu, desde o século VI.
O inicio do caminho do monges pela extremidade Sul (aconselhamos esta direcção, embora as marcações estejam bem visíveis nos dois sentidos) é precisamente em São João de Tarouca.
Em 1140 já existia aqui um pequeno convento, uma comunidade beneditina, um ermitério. Nesse ano é dada carta de couto a esta comunidade. Entre 1141 e 1144 ocorre a sua filiação na ordem de Cister, formalizando-se assim a fundação do primeiro mosteiro cisterciense em Portugal. O edifício actual começa a ser construído em 1152.
A presença dos "monges brancos" (distintos dos beneditinos, que vestiam de negro) no território do condado Portucalense era importante para sensibilizar o Papa Alexandre III, para que este reconhecesse Portugal como um país de pleno direito. (o que veio a acontecer, oficialmente, em 1179, com a bula «manisfestis probatum»).
Poucos anos depois, um novo mosteiro é fundado em Salzedas, a poucos quilómetros de distância do primeiro.
Em ambos os casos - condição da Ordem que todos os mosteiros se ergam junto a cursos de água - edificados junto ao rio Varosa ou algum dos seus braços.
(Igreja do mosteiro de Salzedas)
(A água é super abundante nesta região, por toda a parte correm ribeiros)

(A ponte e torre de Ucanha controlavam a passagem pelo couto da Abadia de Salzedas)

(Pormenor da fachada -Torre de Ucanha)

(Bugalhos)
A ordem for prosperando nos séculos XII, XIII e XIV e possuía um vasto património - também fruto de inúmeras doações recebidas (a primeira, pelo próprio D. Afonso Henriques, primeiro rei de Portugal) e uma eficaz gestão das aquisições.
Esta Casa-mãe filiou vários outros mosteiros como Fiães, São Pedro das Águias e Santa Maria de Aguiar.
Impelidos a seguir o curso da água, os monges chegaram rapidamente ao Douro, percebendo a riqueza agrícola do território. Nasce a primeira quinta de produção de vinho doce, a Quinta de Mosteirô (hoje no concelho de Lamego)
O primeiro grupo percorreu o Caminho dos monges no final de Maio e início Junho de 2024 - uma época maravilhosa para colher cerejas ao longo de TODO o caminho! Não podíamos ter melhor companhia, doce, saborosa, colorida e... grátis!
Também as plantações de sabugueiro nos acompanharam sempre - uma árvore pouco conhecida, singela e linda.
À medida que caminhamos, a dada altura, a paisagem transforma-se: do granito passamos ao xisto. O perfil montanhoso, revestido de socalcos e vinha, começa a surgir à medida que entramos no Douro vinhateiro.
O caminho segue temperado pela comida regional, que fazemos questão de provar – as deliciosas bolas de Lamego, o biscoito da Teixeira, os milhos em pote de ferro, e outros petiscos. As paragens para dormir são em pequenas aldeias, entre açudes e pontes do Varosa, graças aos habitantes locais, acolhedores e genuínos.
(«Os milhos», prato tradicional cozinhado em panelas de ferro)
(Produtos de sabugueiro e regionais, loja InovTerra, Ucanha)
(As belas cerejas!)
O que é bonito neste mundo, e anima, é ver que na vindima de cada sonho fica a cepa a sonhar outra aventura. E que a doçura que não se prova se transfigura noutra doçura muito mais pura e muito mais nova». (Miguel Torga)
A caminhada é entremeada por diversas visitas culturais – além dos dois mosteiros cistercienses, fazemos visita guiada ao Paço de Dalvares (museu do espumante), à torre de Ucanha, às caves da Murganheira e ao Museu do Douro.
Por fim, a chegada à Régua - destino final desta aventura, de mochila às costas - é uma emoção!
Vem descobrir connosco esta belíssima região, património imaterial mundial da Unesco desde 2001, consagrada como «Paisagem Cultural Evolutiva e Viva».
O Doiro sublimado (...). Um poema geológico. A beleza Absoluta». (Miguel Torga)





















































































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